Segundo Uranio Bonoldi, especialista em tomada de decisão, o Brasil não está no momento ideal para esse tipo de medida pelos riscos da inflação
Diversos países ao redor do mundo têm aderido à campanha 4 Day Week, que incentiva a redução da jornada de trabalho semanal para 32h – são quatro dias da semana trabalhados, sem redução de salário. O Brasil também integrará o programa – as empresas que se inscreveram deverão iniciar o novo modelo em setembro deste ano. O intuito é de que, com trabalhadores mais descansados, a produtividade aumente. Para o escritor Uranio Bonoldi, especialista em tomada de decisão, carreira e negócios, uma proposta como essa no país precisa de atenção.
“Simplesmente reduzir de 5 para 4 dias a jornada de trabalho, sem que exceda as 8h trabalhadas, pode trazer um problema econômico, caso não haja aumento de produtividade do trabalhador e alguém vai pagar essa conta”, pondera. Segundo Bonoldi, é difícil que se mantenha o mesmo nível de produtividade com tamanha redução de carga horária, o que faz com que o custo de produção e execução de serviços aumente, e isso se volte contra o próprio trabalhador. “O mercado começa a se autorregular, e o ajuste pode vir pela demissão do funcionário e contratando outro, que esteja desempregado, por um valor menor, que compense a redução da jornada. Este ponto deve ser encarado de frente e de forma realista”.
De acordo com o especialista, a pressão inflacionária que se vive no Brasil, considerando tanto aspectos da economia e da política nacional quanto o cenário pós-covid, dificultam a adoção desse tipo de projeto. “Não acho que o momento é adequado, precisa ser algo bem pensado para que não se reverta contra o trabalhador. Creio que a medida não viria eventualmente a atender um objetivo de melhoria de qualidade de vida, mas sim trazer o risco de se perder empregos”, diz.
Uma alternativa possível seria reduzir para 4 dias da semana trabalhados, flexibilizando o expediente para até 10h por dia. “Assim, caso seja necessário, é possível uma compensação, sem perda de produtividade, os custos de prestação de serviço não se alterariam” e o trabalhador não se colocaria em risco. No entanto, a legislação limita até 8h de trabalho por dia, então cada contratante precisaria fazer uma negociação direta com seus colaboradores, mas, incorreria em riscos trabalhistas. “Precisaria de mudança na legislação para haver flexibilização no número de horas trabalhadas sem que haja aumento de custo. Porque se houver aumento, pode haver repasse no preço”, opina.
Atualmente o Reino Unido conta com cerca de 3 mil trabalhadores de mais de 30 setores da economia seguindo esse modelo. O projeto piloto envolve parceria entre empresas e governo, com mais 70 instituições envolvidas, e deve seguir até dezembro. “Outros países implantaram esse modelo, mas são lugares com uma economia muito mais forte, mais estável, com baixo nível de desemprego e que tiveram mudanças de legislação e regulação, de forma que a coisa se equalize, sem aumento de custo para empresários que, como disse, no futuro, direta ou indiretamente podem se voltar contra o próprio trabalhador. No Brasil, a proposta precisa ser estudada com mais atenção”, finaliza.
Sobre o autor:
Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO. É autor dos thrillers da saga “A Contrapartida” e de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”. Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP.