PROBLEMAS
A dimensão maior da discussão sobre diversidade e inclusão nas empresas é nítida. Para Arthur Minniti, mudanças devem ocorrer no mercado de trabalho em relação às pessoas com deficiência. “As empresas têm de enxergar o que a pessoa é e a capacidade que ela tem. Têm de enxergar primeiro o Arthur, a última coisa é a deficiência”, afirma o empresário. Para ele, o que acontece é o contrário. Minniti é fundador da Tecnovisão, do Mundo da Lupa e da Viagem Acessível, três empresas voltadas para PCDs. Com baixa-visão, o empresário sabe as dificuldades enfrentadas por este público.
“As pessoas entram por meio das cotas e ficam em cargos baixos. São poucos que têm oportunidade de crescer e fazer carreira dentro das empresas”, relata Minniti. O empresário complementa que as companhias não estão preparadas para receber o público que precisa de acessibilidade e inclusão.
Sobre a dificuldade da ocupação de cargos mais altos por pessoas com deficiência, Guilherme Braga, CEO da Egalitê, startup criada para realizar a inclusão de PCDs no mercado de trabalho, constata a existência de duas barreiras significativas: a educação e a falta do olhar. “Ainda é um número baixo de pessoas que tem acesso ao Ensino Superior. Além disso, tem exigências como línguas, que dificultam e ampliam as barreiras”, ou seja, o número de pessoas com deficiência que alcançam a qualificação desejada é baixo, por conta da falta de estrutura educacional para estas pessoas no Brasil.
Apesar disso, elas existem. Então, surge a segunda barreira que é a visibilidade social dos profissionais que são PCDs. “As empresas não olham para esses profissionais. A gente tem o depoimento de que muitas vezes executivos de mercado têm boa experiência e formação, mas são ofertadas vagas iniciais para eles”, atesta Braga. Segundo ele, isso acontece devido à dificuldade das empresas em analisar PCDs para todos os cargos, além dos iniciais.
SOLUÇÕES
Para o CEO da Egalitê, o processo de inclusão começa antes e acaba depois do recrutamento e da contratação. É imprescindível a preparação prévia e posterior do ambiente, dos gestores e dos colegas de trabalho. A prioridade é manejar as pessoas, para romper a barreira atitudinal, dificilmente identificada. Ou seja, acabar com ações capacitistas, para que todas as outras medidas sejam realizadas com maior facilidade e empenho de toda a equipe. “Quando a gente fala de atitudes pessoais, não vemos as pessoas levantando a mão para dizer que são contra a inclusão de PCDs. Mas, tomam atitudes que acabam prejudicando, não sendo flexíveis, não apoiando”, afirma Braga, explicitando a importância da conscientização pessoal.
Acrescenta-se a este panorama a diferença entre empregar e incluir, pautada na empatia e no empoderar. De acordo com o CEO, a inclusão se dá “quando um profissional com deficiência se sente acolhido, valorizado e respeitado pelo seu potencial”. Em contrapartida, apenas se emprega, quando a empresa estabelece vários pré-requisitos e não se flexibiliza para a inclusão. O desejável, para Braga, é que as companhias entendam este processo, para então recolher os benefícios de ter uma força de trabalho mais diversa.
Além de medidas institucionais, projetos independentes também são importantes para a maior presença de PCDs no mercado de trabalho. Minniti criou o Conectando você ao Mundo durante a pandemia. O projeto consiste em um vídeo em que diversas pessoas com deficiência visual total e de baixa-visão, que usam tecnologia assistiva, falam de suas experiências. A finalidade, de acordo com seu criador, não é apenas mostrar a importância dos produtos que oferece, mas como eles podem influenciar diretamente na inclusão.
O empresário vende tecnologias assistivas. São produtos com os quais a pessoa com deficiência consegue se conectar com o mundo, ter mais independência e ser mais bem inserido na sociedade. Para um cadeirante, a cadeira de rodas é uma tecnologia assistiva. Para quem é baixa-visão, são as lupas eletrônicas e ampliadores de texto.
Para Minniti, a importância do projeto é demonstrar que a PCD “a partir da tecnologia assistiva, ela pode sim ser quem quiser e pode ser inserida no mercado de trabalho”. Portanto, o saldo do projeto foi positivo, tanto pelo lado social, de gerar representatividade para crianças e jovens, quanto pelo crescimento da marca. Segundo Minniti, a empresa ganhou novos clientes e gerou maior visibilidade para a tecnologia.
O projeto Conectando você ao Mundo, que começou somente com a gravação do vídeo com depoimentos, já tem desdobramento: um evento que vai reunir fabricantes de nível internacional para conversar sobre tecnologias assistivas e expor no mercado brasileiro. A programação vai contar, ainda, com depoimentos de profissionais que são PCD e que estão inseridos no mercado de trabalho e de empresas que têm políticas de diversidade e inclusão. O evento ocorrerá na semana de 24 de maio, virtualmente.