Para William Almeida, o uso de dados de avaliações de pessoal permitem melhorar gestão de colaboradores para que atuem de forma mais analítica, voltando sua atenção ao cliente e gerando maior retorno para empresas
No atual cenário empresarial, a busca por eficiência e produtividade tem impulsionado a adoção de tecnologias inovadoras em diferentes setores. Os recursos humanos não são exceção, e as inteligências artificiais (IA) estão emergindo como uma ferramenta poderosa para otimizar os processos e a tomada de decisões nessa área estratégica das organizações. De fato, essa já é uma realidade em muitas empresas. Segundo pesquisa desenvolvida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.Br), 22% das empresas pequenas e 37% das grandes já adotaram alguma ferramenta de IA na sua rotina.
Além do impacto nas rotinas administrativas, o uso de inteligências artificiais proporciona melhor gestão do clima organizacional, agilidade na gestão de processos e pessoas, eficácia no recrutamento, seleção, treinamentos e análise de comportamento dos colaboradores. Para o especialista contábil e tributário e diretor da Alldax Contabilidade e Consultoria, William Almeida, o principal objetivo da implementação de IAs em RH é possibilitar uma boa relação entre empresa e funcionário.
“O RH hoje é o coração da empresa, criando conexão entre funcionários e os valores das empresas. A maioria das rescisões acontecem por aspectos comportamentais e não técnicos. Com as inteligências artificiais cada vez mais presentes no dia a dia de uma organização, é função do RH ampliar essa conexão e entender cada pessoa de forma individual para que, juntos, todos cheguem a um objetivo comum”, afirma o especialista.
Novas inteligências possibilitam a automação de tarefas operacionais e repetitivas que antes consumiam tempo precioso dos profissionais. Dados da consultoria Bain & Company indicam que, para 87% dos heads de RH, a tecnologia digital deve mudar profundamente o setor. Tarefas como triagem de dados e desempenho de pessoal podem ser realizadas de forma rápida e precisa por meio de algoritmos inteligentes, o que viabiliza que o RH se concentre em atividades mais estratégicas, como o desenvolvimento de políticas de talentos e a gestão de equipes.
Quanto aos processos de recrutamento e seleção de pessoal, algoritmos de machine learning podem analisar grandes volumes de currículos e identificar automaticamente os candidatos mais qualificados, com base em critérios pré-definidos. Atualmente, já é possível conduzir entrevistas virtuais, utilizando análise de linguagem natural e reconhecimento facial, que verificam as competências e características dos candidatos. Essas tecnologias não apenas aceleram o processo, mas ajudam a reduzir o viés humano, o que garante uma seleção mais imparcial.
William Almeida explica que “as IAs são utilizadas para otimizar os processos administrativos e operacionais da Alldax. Um exemplo disso está no uso de dados de avaliações de pessoal, que permitem melhor direcionamento de nossos colaboradores para áreas onde sejam mais eficientes e estejam satisfeitos. Outro benefício está no relacionamento com o cliente. Estamos trabalhando para que os colaboradores atuem de forma mais analítica, voltando sua atenção ao cliente e entendendo seu negócio”, afirma.
Para o especialista, o distanciamento social, decorrente da COVID-19, acelerou o desenvolvimento de novas tecnologias, a fim de viabilizar a continuidade dos serviços em organizações. “Há pouco mais de uma década, a seleção e treinamento eram realizados, em sua maioria, de forma presencial. Isso veio mudando, e a pandemia acelerou bastante essa dinâmica. Mas é necessário observar que a modernização de uma empresa não exclui o envolvimento humano em seu processo, muito pelo contrário. E esse ponto é a chave, compreender que a implementação de IAs não é uma forma de demitir pessoas e sim se cria uma necessidade de capacitação do time”, enfatiza.
Outro impacto ocorre nas rotinas administrativas, que apresentam alguns desafios a serem considerados pelas empresas, como a qualidade dos dados coletados e questões éticas de privacidade. Chatbots de IA, como ChatGPT da OpenAI e Bard do Google, têm avançado rapidamente, gerando preocupações sobre a segurança dos usuários. As tecnologias têm acesso a grandes volumes de dados, tornando difícil filtrar completamente as informações utilizadas. Atualmente, tramita no senado o Projeto de Lei da Inteligência Artificial (PL 2338/23), que propõe normas gerais para o desenvolvimento, implementação e uso responsável de sistemas de inteligência artificial no Brasil.
Para William Almeida, esse avanço é inevitável e está presente em tudo, incluindo o mercado de trabalho. “Na década de 1990 se falava em globalização, que as informações seriam cada vez mais rápidas, quase instantâneas. A década de 2000 nos proporcionou uma interação totalmente nova a partir das redes sociais. Hoje temos inteligências que vão muito além de tudo o que vivemos no passado. Precisamos compreender que os usuários são os responsáveis pela comunicação e que, muitas vezes, essas podem ser falsas [fake news]. A chave é se adaptar, com consciência e responsabilidade, e isso em todos os setores que movimentam a sociedade. No mundo, quem se sai melhor não é quem sabe mais ou quem tem mais recursos, é quem melhor se adapta às mudanças. E como diria Flávio Augusto, ‘estabilidade não existe’”, conclui.