Seja empático e a inutilidade dessa ordem

Após realizar alguns exames, uma amiga recebeu um diagnóstico de câncer na tireoide do médico que conduziu o exame de imagem. De forma abrupta, sem nenhum tato. Assustada, procurou um oncologista, que lhe explicou que seria necessária uma biópsia para fechar o diagnóstico, tentando tranquilizá-la. O resultado foi o melhor possível. No entanto, até esse resultado sair, foram dias de muito sofrimento.   

Uma outra pessoa, depois de trabalhar mais de vinte anos como professora em uma instituição de ensino, foi demitida, sem justa causa, por telegrama. Relata ter se sentido muito desrespeitada e descartada de forma tão impessoal. 

Podemos somar a esses muitos outros casos, de maiores ou menores consequências. Convido-os a considerar os seguintes aspectos: são situações de perda, ou de ameaça de perda, que envolvem preocupações e sofrimentos. O que chama a atenção é que uma parte desse sofrimento poderia ser evitado se a forma como foram conduzidos fosse outra. 

Muito se tem falado sobre empatia, e os danos que sua ausência causam. A capacidade de ser empático se relaciona à capacidade de mentalizar, ou seja, de inferir os estados mentais nossos e de outras pessoas, em resposta aos nossos comportamentos. Esta capacidade é resultante principalmente de nossas relações com cuidadores no início de nosso desenvolvimento. É considerar e compreender o que se processa na mente das pessoas, envolvendo pensamentos, atitudes e emoções. Esta capacidade está ausente nos psicopatas, e não vou considerá-los nesta reflexão. 

A empatia engloba uma compreensão e uma resposta afetivo-cognitiva que conduz à compaixão, que implica um desejo e uma atitude de minimizar o sofrimento do outro. Empatia e compaixão não são o mesmo que identificação (tornar-se semelhante). Na empatia e na compaixão, a pessoa percebe-se distinta do outro, apesar de compreendê-lo. São respostas complexas; por isso, não é possível admoestar: seja empático! 

Podemos dizer que a percepção de traços de identificação com as pessoas ou grupos favorece a empatia. As pessoas podem ser mais empáticas com outras de sua própria classe, profissão, família, grupo político ou ideológico e não o serem com outros. Teoricamente, na medida em que indivíduos amadurecem e percebem suas próprias limitações e tendências destrutivas, podem ampliar cada vez mais seu círculo empático até os seres humanos em geral, ou até os seres vivos como um todo. Confesso que não conheci ninguém assim. No entanto, isso não quer dizer que o grupo não possa ser cada vez mais inclusivo. O autoconhecimento favorece essa inclusão. 

Algumas vezes, o desconhecimento sobre determinadas circunstâncias pode ser um elemento dificultador. O esclarecimento, a contextualização, o detalhamento sobre os estados mentais podem ajudar as pessoas a encontrar pontos de identificação, mesmo que de forma inconsciente. É como se pudessem dizer: ‘eu não imaginava que tal atitude pudesse provocar tanto sofrimento’ ou “eu não imaginava que alguém que estivesse passando por isso pudesse estar sofrendo assim”. Daí a importância de programas de sensibilização para determinados temas nas empresas, principalmente quando lidam com situações de perda ou ameaça de perdas. 

Estes treinamentos ou programas, no entanto, não garantem que as pessoas se sensibilizem, nem que saibam o que fazer caso isso ocorra. Nestes casos, a criação de um protocolo, um passo a passo a ser desenhado para cada caso, poderia prevenir parte do sofrimento evitável. Apesar de parecer óbvio, quem deve conduzir esses treinamentos e assessorar na elaboração desses protocolos devem ser aqueles profissionais que, além de empáticos, tenham os recursos técnicos para operacionalizá-los. Mas, independentemente de seus esforços, não vão desenvolver empatia em alguém que não tenha essa habilidade.  Por isso é tão inútil o comando “seja empático!” que, no fim, serve apenas para alertar alguém de alguma insensibilidade. 

Concluindo: informação, os programas de sensibilização podem jogar um papel muito importante na capacitação de pessoas que se defrontam com o sofrimento dos outros, favorecendo respostas mais empáticas. E, naqueles casos em que isso não foi possível, seja por imaturidade, ou pelo próprio momento de vida, um protocolo para seguir pode ser muito útil. 

Prof.ª Dr.ª Claudia Maria Sodré Vieira

Psicóloga e Psicanalista

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