O desafio de incluir e integrar os PCDs nas empresas

Um tema que tem estado em destaque nos últimos anos é a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. No Brasil, levantamento do IBGE estima que temos 25% de PCDs, dos quais apenas 1% trabalha com vínculo empregatício. Estes números sugerem que apesar da Lei de Cotas estar em vigor há 30 anos, estamos bem longe de incentivar ou praticar a inclusão destes profissionais.

São muitos os obstáculos neste caminho como falta de acessibilidade nas vias, calçadas, edifícios, meios de transporte e até em banheiros. Tudo isso sem dúvida já elimina a oportunidade de quem porta deficiência de locomoção e utiliza cadeiras de rodas.

Da mesma forma, falta acessibilidade aos deficientes visuais e auditivos para locomoverem-se com segurança nas ruas, no transporte e nos edifícios, culminando no isolamento destas pessoas que se veem mais restritas ainda à sua casa e ambientes adaptados. E esta realidade é triste, pois mesmo com a deficiência são capazes de trabalhar utilizando recursos como leitura de telas e lupa.

Sobram então as pessoas portadoras de deficiências leves e parciais, as que mais comumente vemos empregadas com mais sucesso.

Porém é importante aqui entendermos que estar “empregado” não significa estar “integrado”, pois entre uma coisa e outra há uma enorme distância.

É bastante comum no mundo corporativo as pautas para estimular a inclusão de PCDs nos quadros de funcionários, nas quais o RH alerta não só para o cumprimento da cota, mas para a retenção destes profissionais nas empresas. E esta retenção, quando superados os obstáculos de acessibilidade, passa principalmente pelo acolhimento e apoio da equipe e gestores ao novo funcionário PCD.

Inegavelmente ter uma pessoa portadora de deficiência no time nos inspira, nos faz relativizar nossos problemas, a ter empatia e conviver com pessoas diferentes. Assim como qualquer outro funcionário, a pessoa com deficiência quando chega ao seu novo local de trabalho, espera encontrar um ambiente leve, saudável, respeitoso que o receba e o apoie nas dificuldades iniciais. Até aqui nenhuma novidade, mas não raro nossos colegas com deficiência são recebidos entre olhares e total despreparo das pessoas para se comunicar de forma inclusiva. Importante também que a questão ergonômica seja adaptada para receber estas pessoas, restando então as barreiras atitudinais a serem derrubadas, estas as mais difíceis. É relevante também que esses colaboradores possam ter perspectiva de crescimento e desenvolvimento, que tenham acesso à informação, às discussões da área. Enfim que tenham participação normal nas atividades da equipe e não fiquem de lado com tarefas básicas quando estão capacitados para entregar mais.

Com alegria, tenho percebido grandes avanços neste sentido, porém, ainda me deparo com tristes relatos de pessoas com deficiências auditivas que experimentam atitudes de impaciência do gestor ou colegas para se comunicarem com eles, visto que poucas pessoas falam em libras, e menos ainda as pessoas dispostas a falarem mais devagar para possibilitar a leitura labial. Ainda falando dos deficientes auditivos, as reuniões são ocasiões bastante perturbadoras também visto que não há intérpretes em libras nas empresas. Fica aqui evidenciado um cenário em que precisamos melhorar muito ainda.

Outro tema relevante para discutirmos nessa trajetória da verdadeira inclusão e integração dos PCDs é superarmos o pré-conceito de que são pessoas incapazes, anjos ou até mesmo coitados. Todos estes profissionais são pessoas como nós – os que nos julgamos “normais” – eles se esforçam, estudam, ficam com raiva, reagem às emoções e são muito guerreiros, já que o caminho deles é bem mais cheio de pedras do que os nossos.

E assim sendo, partindo do princípio que muitos têm currículos excelentes, falam inglês e ostentam cursos e especializações, por qual motivo só os vemos majoritariamente em funções básicas nas empresas? Precisamos pensar em um plano de carreira para profissionais portadores de deficiência.

Neste ponto, o papel do RH é crucial para avaliar o processo integrativo destes profissionais PCDs e poder gerir eficientemente eventuais barreiras que se apresentarem.

Sem dúvida, um mar de oportunidades de inclusão acompanho de outro mar de desafios na integração, mas o resultado é tão gratificante que faz todas as dificuldades valerem a pena.

Luciana Tegon

Headhunter e Coach – Especialista em Carreira

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