Liderança nos tempos da cólera

Liderar é dirigir como líder, chefiar, ocupar a principal posição no decurso de competição desportiva. Em todas essas definições há uma coisa comum: estar à frente de. Olhando para os sinônimos, que são orientar, conduzir, nortear, fica mais claro o significado do papel do líder. O líder tem de apontar o caminho, propor uma crença ou valor, ir à frente dos liderados faça chuva ou faça sol.

Nas guerras antigas, os comandantes estavam sempre à frente dos comandados. As   guerras modernas é que incorporaram o conceito do líder na retaguarda. Vá lá, é preciso preservar o líder, mas Alexandre, o grande, e Caxias eram mais comprometidos e iam na frente.

O líder tem de fazer a leitura permanente da realidade, prever dentro de suas capacidades, futuras mudanças, buscar alternativas para enfrentar as ameaças e multiplicar os resultados, disponibilizando-as para os liderados.

Esse processo tem se tornado progressivamente mais complexo e menos previsível, fazendo com que muitos líderes se apanhem perguntando, como no samba enredo “O amanhã”, da União da Ilha em 1978, como será amanhã? responda quem puder.

Antes de avançar, é necessário dizer que a ação do líder se desdobra em dois aspectos:  o técnico e o comportamental. O líder, além de orientar os liderados na busca das melhores formas de realizar as tarefas, deve mostrar quais são as posturas e comportamentos esperados para manter a harmonia com clientes, fornecedores e colegas. Ao lado disso, tem de apontar quais são os limites éticos a serem respeitados.

Outro ponto a ser esclarecido é a distinção entre líder natural e líder outorgado. No primeiro caso, a pessoa reúne competência própria e tem a adesão espontânea dos liderados. No segundo caso, uma autoridade define que a pessoa terá a missão de comandar um grupo ou equipe. Nesta situação, a pessoa recebe treinamento para gerenciar pessoas e os subordinados têm de aceitar, gostem ou não, o comandante. Em tempo, alguns líderes outorgados podem se transformar em naturais.

A gestão de pessoas, de uns tempos para cá, tem se tornado cada vez mais complexa e delicada. Boa parte disso, deriva do fato de que progressivamente há uma mistura da vida profissional com a pessoal. Isto é consequência direta das manifestações dos trabalhadores nas redes sociais. Se antes era muito difícil a empresa tomar contato com a vida dos empregados fora da empresa, hoje isto está escancarado.

Não haveria nenhum problema se a postura e o comportamento dos trabalhadores fora da empresa estivessem completamente alinhados com os esperados na vida profissional. Isto, em muitos casos não ocorre e a dicotomia entre uns e outros em vários casos é grande, alcançando situações que são passíveis de reprimenda e/ou punições por parte da empresa.

A melhor forma de prevenir problemas deve ser obtida por meio da ação dos gerentes.

Cabe a eles mostrar aos subordinados os riscos contidos na exposição nas redes sociais, que quando fazem isto eles mostram quem são, o que pensam, como agem, como lidam com as pessoas, como reagem diante das posições contrárias.

Se o comportamento deles for acima de qualquer suspeita ao se colocar nas redes sociais de forma aberta, se mostram ter uma personalidade exemplar, se demonstram ter uma capacidade de agregar e buscar pontos positivos, não há nenhum problema.

No entanto, quando eles expõem sua intolerância, quando tratam as pessoas de forma agressiva, quando humilham seus interlocutores nas redes sociais, quando defendem ideias condenáveis ou ilegais estão cavando sua própria sepultura no mundo corporativo. Com estes comportamentos, eles podem abrir caminho para receber punições ou serem demitidos da empresa onde trabalham e podem também fechar portas quando decidirem mudar de emprego.

Por último, os gerentes têm a responsabilidade de mostrar aos liderados como se comportar diante de posições das quais discordam, como fazê-lo de forma educada e civilizada sob pena de deixar o ambiente de trabalho ser contaminado pela cólera que anda solta no Brasil. Há um confronto permanente nas relações pessoais e familiares quando ideias diferentes são colocadas na mesa.

A intolerância e a radicalização correm soltas nos ambientes sociais e isto impede que soluções sejam encontradas, que caminhos menos ásperos sejam trilhados, que as pessoas cultivem mais o respeito entre elas.

Os gerentes têm de garantir um ambiente de trabalho em que todo exponham livremente suas ideias e busquem as melhores soluções para a empresa e os empregados de forma harmônica e respeitosa.

José Emídio Teixeira

Professor de Relações de trabalho da Fundação Dom Cabral e diretor da Dialogar – Consultoria de Relações de Trabalho

José Emídio Teixeira – Foto divulgação

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