Home office – como ficará depois da pandemia já é assunto decidido?

Depois de mais de um ano de pandemia, o Home office, para muitos, passou a ser considerado a oitava maravilha do mundo. Cresceu a tendência dos empresários e diretores de RH afirmarem que o home office veio para ficar e que seria melhor abandonar os escritórios, mandando todos os empregados trabalhar em casa.

Em um primeiro momento foi o que ocorreu, pois não havia outra saída, mas está longe do trabalho em home office transformar-se na única opção.

Quando as empresas descobriram que a pandemia não era uma crise passageira, mas algo duradouro, e de consequências gravíssimas, não tiveram outro jeito senão despachar todos trabalhadores dos setores técnicos e administrativos para trabalhar em casa.

Do dia para noite, gente que nunca tinha ouvido falar em home office descobriu-se em casa, aprendendo na marra a lidar com a novidade. Em paralelo, as empresas também tiveram de aprender rápido. Primeiro, descobriram que nem todos os empregados dispunham de equipamentos, internet e espaço em casa para trabalhar de forma remota. Em seguida, constataram que teriam de providenciar o que faltava e convencer os trabalhadores que tinham de se virar no espaço que tivessem.

Como em todas as situações houve várias abordagens. Algumas empresas que fizeram de tudo e um pouco mais para facilitar a vida dos trabalhadores, providenciando equipamentos e móveis, instalando um sistema de comunicação próprio e até fazendo o pagamento de uma ajuda de custo. Outras chegaram ao requinte de promover de tempos em tempos um HAPPY HOUR pelo Zoom. Outras, só fizeram o absolutamente necessário.

Conversei com uma empresária de Florianópolis que está no primeiro grupo e ela me disse que, apesar de tudo que fez, ela teve vários casos de empregados que não se adaptaram ao trabalho remoto o que a levou a reabrir o escritório. A questão foi de natureza psicológica e social. Estes fatos são recorrentes em muitas empresas, atingindo um grupo elevado de trabalhadores, pois, a maioria das empresas não abrirá os escritórios enquanto a pandemia durar.

As pessoas que estão em home office, podem ser divididas em três grupos bem distintos.

O primeiro é integrado pelos executivos dos níveis mais altos que mudaram temporariamente para suas fazendas, casas de campo ou de praia onde gozam de todo conforto. Houve alguns que chegaram a se hospedar em hotéis ou alugar casas em cidade praianas.

O segundo grupo é composto pelos empregados administrativos ou técnicos de nível mais alto que moram em casas ou apartamentos mais amplos que reúnem boas condições para trabalhar remotamente com conforto e privacidade.

O último grupo é o dos empregados administrativos e técnicos de nível mais baixo na hierarquia. Eles não dispõem de casas e apartamento com estrutura e tamanho apropriado para realizar o trabalho nestas condições. Não existe conforto nem privacidade.

Muitas empresas se precipitaram e já decidiram que, mesmo depois da pandemia, não haverá mais trabalho presencial durante toda a semana. Virou moda dizer que o caminho é um sistema hibrido: parte em casa, parte no escritório.

Um detalhe importante: ninguém pensou em perguntar aos trabalhadores o que eles desejam. A maioria das pesquisas citadas pelos analistas dos jornais foram realizadas no exterior onde a relação com trabalho remoto já está consolidada. A única pesquisa que consultou cerca de 1.000 trabalhadores brasileiros foi feita pelo Zoom. Ela aponta que 23% dos trabalhadores querem trabalho presencial e somente 7% querem trabalho virtual. Os outros 70% falam em equilibrar os dois. Resta saber em que proporção.

Não houve, nos resultados da pesquisa, a identificação das pessoas por grupos hierárquicos. Se as empresas querem saber o que pensam os empregados a respeito devem fazer uma pesquisa que identifique as posições de cada um dos três grupos. Seria oportuno que se identificasse, como fez a empresária de Florianópolis o que agrada e o que incomoda os trabalhadores.

A decisão de cada empresa deve ser precedida de muita conversa com trabalhadores e sindicatos para garantir a sustentabilidade do modelo a ser escolhido. Lembrando que trabalhador respeitado é mais produtivo e comprometido com os resultados da empresa.

José Emídio Teixeira

Professor de Relações de trabalho da Fundação Dom Cabral e diretor da Dialogar – Consultoria de Relações de Trabalho

José Emídio Teixeira – Foto divulgação

Compartilhe!