Home office fora de casa

Parece absurdo. Mas não é. Por certo, ao lerem o título da coluna muitos estão se questionando, mas se HOME OFFICE quer dizer trabalho em casa, numa tradução livre, como poderá ter HOME OFFICE fora de casa.

Então, coloquei esse título para fazer uma provocação e para despertar o interesse dos leitores.

No novo normal, tão comentado por muitos, há diversos pontos duvidosos, mas uma coisa é  certa. Em todas as atividades – e são muitas – onde o trabalho a distância for possível, não haverá mais o trabalho nos escritórios, todos os dias, como acontecia até antes da pandemia.

Com toda certeza, o modelo a ser adotado pela maior parte das empresas, dos mais diversos segmentos, será o híbrido.

Sim, híbrido. Uma mescla de alguns dias nos escritórios e outros tantos fora dele. A diversidade no número desses dias será grande. Irá variar entre um a quatro dias em casa. O bom  senso sugere que, pelo menos uma vez por semana, o pessoal vá aos escritórios para não perder o contato com os companheiros de trabalho e com os gestores.

A participação, por menor que seja, nos locais de trabalho é mandatória para não ferir o  espírito de pertencimento, de comprometimento, visando evitar a sensação de esquecimento total por parte das empresas.

Obviamente, não é uma regra imperiosa. Empresas mais modernas já defendem a tese de não mais ter o trabalho em escritórios. Eu, particularmente, tenho algumas dúvidas sobre a  eficiência deste sistema.

Mas, voltando ao trabalho a distância, tenho observado que, se por um lado, o trabalho em casa proporciona inúmeras vantagens, tais como, ficar livre do trânsito que tanto amargura nossas vidas, estar próximo à família, economia com roupas, dentre tantas outras, por outro  lado, o trabalho em casa tem apresentado uma série, igualmente grande e importante, de problemas.

Estamos falando da precariedade das condições de trabalho da maior parte dos empregados. Sabemos que nem todos têm um espaço adequado para a realização do trabalho. Muitos trabalham na mesa da cozinha, usando cadeiras nada ergonômicas, o que com o passar do tempo irá gerar problemas de saúde.

A privacidade é outro fator de incômodo. Quem de nós já não ouviu crianças chorando, gritando, tentando conversar com os pais em meio de uma reunião on-line. Isso para não falar dos latidos dos cachorros e barulhos de obras próximas às residências.

Os problemas são muitos. Vamos nos ater ao direito à desconexão. Em casa, estamos conectados o tempo todo. Não temos mais horários de refeições, de descanso e nem para  pararmos de trabalhar. O raciocínio, errado, que se estabeleceu em nossas mentes, foi o seguinte: já que estamos em casa não temos horário para cumprir. Trata-se de erro grave. Esta prática por longo tempo irá provocar esgotamento físico e mental. Acabará com a produtividade e criatividade.

Não é sem motivo que a ciência estabeleceu que o dia deve ser dividido em três partes: oito horas para trabalhar, oito horas para lazer e oito horas para dormir. As pesquisas sobre home office ao redor do mundo demonstram que problemas de saúde mental, com grande dificuldade no sono, estão sendo identificados.

Existem outros problemas, mas acredito que para eu defender a minha tese estes já são suficientes.

Bom, mas o que fazer?

O trabalho a distância é bom para as empresas, certamente, irá gerar economias significativas e é bom para as pessoas, pois, elas ficam livres dos transtornos do trânsito e dos  metrôs e ônibus superlotados, para dizer o mínimo.

A saída será a construção de escritórios corporativos perto das residências dos empregados. Um tipo de coworking melhorado. Atualmente, estes espaços são utilizados, preferencialmente, por profissionais liberais que não necessitam manter um escritório próprio com todos os seus custos e estão localizados nos centros comerciais.

A ideia é outra. Empresas comprariam ou alugariam espaços de diversos tamanhos, os quais  poderão variar de prédios, a andares, ou mesmo a determinadas salas, perto da residência dos empregados, para que eles possam realizar o trabalho a distância. Repito: perto da casa  deles, usufruindo de uma estrutura adequada, para garantir um bom trabalho, com produtividade, qualidade e privacidade, ficando livre do tempo de transporte, podendo usar  roupas mais informais e menos custosas, mas podendo sair das residências e evitando os males já mencionados.

Visando facilitar a administração destes espaços, as empresas, que quiserem, poderão adquirir um office pass para o empregado usar no coworking de sua preferência.

Estes espaços seriam providos de toda a infraestrutura necessária para assegurar condições de trabalho satisfatória para os dois lados. Seriam estações de trabalho rotatórias, a cada dia  o empregado usaria uma das estações do trabalho, garantindo, desta forma, toda segurança das informações. Não podemos nos esquecer das novas exigências trazidas pela LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados.

Esta prática seria extremamente conveniente ao poder público e ao meio ambiente. A  qualidade de vida da população ficaria muito melhor.

Tenho para mim, que logo as construtoras irão acordar para isso. Elas percebendo a mudança que ocorrerá pós-pandemia, já estão mudando as plantas dos apartamentos para criar um cantinho para o home office. Ajudará, mas não resolverá os problemas existentes, até porque a maioria dos empregados administrativos não tem condições financeiras para arcar com este custo adicional.

Estou convencido que este será o modelo do futuro. Todo mundo sairá ganhando.

Fernando Tadeu Perez

Profissional de Recursos Humanos | Conselheiro Certificado IBGC

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