Liderança no resgate do humano

Outro dia, me lembrei de uma situação pela qual passei num momento bastante difícil de um processo de mudança numa organização. Foi no momento do auge da implantação de uma nova estrutura organizacional e, principalmente, de novos processos e novo espaço físico, com muitas frentes de trabalho e transformações. No meio deste cenário confuso, um membro da equipe entrou na sala de coordenação do projeto e começou a desabafar e falar das suas dúvidas e angústias com o processo e também de como estava se sentindo inseguro, chegando inclusive a se emocionar. Ao finalizar, agradeceu e se disse mais aliviado. Não fizemos nada além de dar atenção e entender que ele precisava deste momento de manifestar todo o incômodo que estava sentindo.

Imediatamente, fiz uma conexão com o nosso momento atual de pandemia em que, como nunca, precisamos resgatar a nossa natureza humana e entender que estamos lidando com pessoas, com suas individualidades, diferentes contextos, impactos na vida e necessidades.

Obviamente que as condições atuais são muito mais intensas, inseguras e incertas do que as que vivenciávamos há algum tempo nas organizações. Passamos por situações de mudanças abruptas nos nossos contextos familiares, profissionais e sociais, que abalaram nossos padrões e trouxeram um componente mais significativo que é o risco de saúde com a doença e suas consequências, com as quais estamos convivendo em diferentes níveis.

Em momentos como estes, que envolvem riscos à nossa sobrevivência, precisamos lembrar que uma tendência acentuada é que as pessoas manifestem, com intensidade, as suas reações mais básicas e primitivas, pautadas principalmente pelo lado emocional e chegando a inibir o pensamento racional e suas ponderações.

No meio dessa turbulência toda estão os líderes com infinitas demandas da organização, das pessoas e suas equipes e também do seu ambiente familiar. Em vários momentos, temos a sensação de que não vamos dar conta de tudo, trazendo angústia, insegurança, inquietação, mas, ao mesmo tempo, um momento de desafio e de podermos aprofundar o nosso exercício da liderança.

Para contribuir na sua atuação como líder, vou apresentar algumas considerações que podem te apoiar neste processo, destacando:

Autocuidado:

  1. Lembre-se de cuidar de você, preste atenção em como está reagindo a toda esta situação e procure respeitar os seus limites
  2. Resgate seus valores pessoais e suas crenças com relação à prática da liderança. Nestes momentos, é importante termos referenciais consistentes que dão sustentação às nossas atitudes.
  3. Tenha compreensão dos seus papéis e das suas responsabilidades, isso é importante para ter clareza dos limites para sua atuação
  4. Tenha consciência de que você não tem que resolver todas as questões. Existem situações nas quais você pode se solidarizar, mas não tem como se responsabilizar pela solução
  5. Procure ter formas de suporte e apoio à sua atuação, como: trocas com outros líderes, suporte da área de RH, contar com um mentor ou procurar apoio de um profissional qualificado.

Cuidados com as Pessoas:

  1. Este é um momento que exige muita atenção em relação ao resgate dos aspectos humanos e pessoais da equipe
  2. Lembre-se de que as pessoas têm comportamentos diversos entre si e, em situações de insegurança e incerteza, elas também podem demonstrar reações diferentes do seu padrão natural
  3. Neste sentido, esteja atento a como as pessoas da equipe estão reagindo e identifique alterações significativas
  4. Procure perceber como as pessoas estão reagindo às condições do momento. Esteja atento aos sinais, converse, ouça atentamente, dedique atenção às pessoas, quando necessário individualize as conversas. Evite julgamentos e tente entender os motivos das reações de cada um. Assim, você demonstra empatia e consolida as relações com a equipe
  5. Procure identificar os motivos dos medos, receios e perdas das pessoas; não desconsidere as razões de cada um. Na medida do possível, encaminhe as questões que estão dentro do seu escopo de atuação
  6. Caso ocorram situações de perdas pessoais ou de familiares, que são muito dolorosas, dê suporte e apoio. Respeite o momento de maior intensidade das emoções e da conscientização das perdas
  7. Identifique as formas de suporte e apoio oferecidas pela organização e oriente as pessoas na sua utilização
  8. Cuidando de si e das pessoas, você fortalece os vínculos e aumenta a sensação de acolhimento e pertencimento nas pessoas.

Conduzindo as turbulências:

  1. Nestes períodos incertos e com alterações constantes é fundamental a sua proximidade com a equipe
  2. Sempre que necessário reforce os objetivos e demonstre coerência com as ações diárias, isso diminui a percepção de que as ações estão sem rumo
  3. Caso necessário, e possível, faça ajustes na programação das atividades e processos para equacionar alguma situação pessoal mais impactante
  4. Destaque os avanços e resultados positivos no trabalho, valorize e reconheça a contribuição das pessoas
  5. Sempre que possível procure demonstrar qual o caminho a ser seguido. Isso transmite a sensação de segurança
  6. Tenha atenção na adoção de ações motivacionais, entenda o momento e o clima na equipe. Acredito que em momentos como este, cuidados e atenção com as pessoas trazem impacto mais positivo no engajamento
  7. Mantenha comunicação constante com a equipe, com assertividade e atenção.

Enfim, entendo que a realidade não está fácil e os desafios são enormes, mas o fundamental é manter a sua essência e resgatar os aspectos humanos de todos. Espero ter colaborado.

Fernando Dias

FD – Desenvolvimento Humano

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