Paixão, Desilusão e Amor
A paixão é o momento do encantamento, da idealização do outro, em que não existem defeitos, apenas o desejo da fusão, de ser um só, de poder ser acolhido e acolher, em que não existe mais nada em volta, tão somente dois em um.
A paixão é fundamental na natureza, pois sem ela não existiria a atração, o desejo de fusão, de acasalamento, como na dança de todos os animais, um processo natural de atração mútua.
Não é permitido ver defeitos, falhas, o feio e o não atraente não existem… Somente encantamento…
Paixão é a criança “pulando feito pipoca” quando os pais chegam, em que a energia interna é maior que o corpo que a contém. As crianças precisam idealizar os pais para se sentirem protegidas e amadas pelo pai, que é o mais forte e corajoso, e a mãe, a mulher mais bonita e amorosa do mundo. Não é permitida nenhuma desilusão neste encantamento. Quando acontece vira trauma. As crianças não têm sustentação para entrar em contato com os defeitos dos pais, eles precisam ser mantidos dentro da imagem do ideal.
Assim é a paixão – a forma mais infantil de amar – em que os apaixonados não suportam desilusões, não aguentam que o outro não corresponda à sua idealização. Se acontecer é um “trauma”.
Muitas pessoas não suportam esta desilusão e quando acontece, desistem da paixão dizendo “fui enganado (a), ela (e) me iludiu, não era nada do que eu imaginava…”. Não suportam sair da idealização. Estas pessoas têm medo de crescer e passam a vida indo de uma paixão para outra.
Com a facilidade de contato e a permissividade que o mundo nos oferece, podemos mudar de paixão a cada momento – estamos na era da “fast paixão”. Corremos o risco de ficarmos infantilizados na nossa forma de amar, não suportando nenhuma relação que vá além da ilusão, da idealização.
Este é o amor idealizado!
Crescer é dizer adeus às ilusões…
E aí vem a fase da desilusão em que o outro… “Não é tudo que eu imaginava, comprei gato por lebre, nunca reparei que tinha tanto defeito…”.
Esta é a fase da desilusão, da aborrescência, um novo momento em que se revive o desencantamento que vem com a adolescência, quando “meus pais não são nada do que eu imaginava: ele não é nada forte nem corajoso e minha mãe é uma chata e está ficando velha, não é mais tão bonita assim…”.
Se a paixão leva para a fusão, a desilusão leva para a individuação, a busca da própria identidade, em que “eu sou diferente dos meus pais, eu não penso como eles”.
Sem a desilusão, a pessoa não cresce e não se diferencia. Muitos casais tentam se manter na paixão e tentam não se desiludir, infantilizando a relação, em que ela o chama de “pai” e ele a chama de “mãe”, virando um o filhinho do outro, e com muito medo do mundo lá fora que pode destruir este encantamento.
A desilusão destrói este encantamento, mas, dá em compensação, mais realidade, mais identidade e mais individualidade em que cada um pode ter o seu jeito de ser. Neste momento, os dois lados têm medo de perder o outro.
Pai e filho brigam e, em seguida, o filho tem medo que o pai o expulse de casa e o pai, medo que o filho fuja de casa. Nos relacionamentos do casal, depois da briga, os dois têm medo da ruptura e começam a agradar o outro, falando de assuntos mais banais para ver se o outro responde. Se responder, a bronca já passou. Este é um “código secreto” que todos usam, um sinal de que está tudo bem, não vão se separar…
Mas depois vem uma nova irritação, implicância, não suportando os defeitos um do outro e tudo vira briga, discussão, intolerância, estraga prazer…
Implicam com tudo, mas morrem de medo de perder um ao outro.
Este é o ódio idealizado!
E assim chegamos à fase adulta, em que já podem admirar as qualidades do outro, ao mesmo tempo em que suportam os defeitos um do outro.
Aqui, encontramos o equilíbrio entre amor e ódio, dois sentimentos antagônicos que quando separados geram doenças, indo da idealização à desilusão total, mas que juntos constroem a têmpera do Amor Adulto.
Numa festa de bodas de ouro, perguntaram para a noiva como foram os 50 anos ao lado daquele homem e ela respondeu:
Foi duro!!!! Mas eu gosto dele, fazer o quê, né?!