O poder dos homens brancos para construirmos empresas mais diversas e inclusivas

Lembro até hoje da conversa que tive com um presidente de uma empresa há alguns anos atrás. Estávamos discutindo a importância dos eventos focados em diversidade e inclusão quando ele fez a seguinte provocação: “Cris, um dia você terá que fazer um fórum só para dialogar com os homens brancos heterossexuais”. Minha primeira reação foi perguntar por que ele teve essa ideia. “Porque somos nós que temos que aprender! Nós vamos ter que nos transformar.” ele respondeu. 

Para reforçar essa perspectiva, lembro também o que Theo Van Der Loo, ex-CEO da Bayer, disse no meu primeiro livro publicado, “Viés Inconsciente”. Segundo ele, homens brancos heterossexuais têm um papel importante nessa transformação, pois a falta de diversidade foi gerada justamente por esse grupo de pessoas. “Quem tem o poder perpetuou essa situação”, concluiu Theo. 

Agora eu pergunto: se os homens têm o poder para perpetuar a falta de diversidade nas empresas, muitas vezes de forma inconsciente, não seria óbvio que eles também têm o poder de transformar a situação? 

Os resultados de uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group confirmam a importância de incluirmos os homens nessas conversas e ações. De acordo com o estudo, os programas de diversidade e inclusão têm 96% de sucesso quando homens estão ativamente envolvidos. Já nas empresas em que eles não estão envolvidos, o progresso é de apenas 30%. 

Além disso, destaco que os bons resultados acontecem quando envolvemos os homens da alta liderança, cujo comportamento serve de exemplo para toda a empresa, e também da média liderança, principalmente aqueles que são responsáveis pelas contratações. Afinal, como mostrei no livro “Viés Inconsciente”, um homem branco inconscientemente tem mais chance de contratar outro homem branco. 

A neurociência já nos mostra como é muito mais fácil um homem influenciar outros homens. Quando uma  mensagem é dita por uma pessoa parecida conosco, e principalmente por quem temos admiração, a probabilidade de escutarmos e aceitarmos é muito maior. 

Desde o começo da CKZ Diversidade, percebi que não poderíamos excluir os homens da transformação que desejamos fazer nas empresas e na nossa sociedade. Mais de doze anos atrás, quando lancei o primeiro fórum focado em diversidade e inclusão, sempre convidei os homens para participar. Eu sabia que a mudança só aconteceria se eles fossem agentes de transformação. 

No início, muitos recusaram o convite. Mudei a estratégia e passei a pedir para algumas pessoas chamarem seus amigos homens para participarem como convidados. Além disso, incluíamos dois convites gratuitos exclusivos para os homens no pacote de inscrições. Pouco a pouco eles começaram a vir — e a gostar. 

Mesmo assim, percebo como muitos homens ainda não se sentem confortáveis nessas situações ou têm medo de perguntar e se posicionar. Isso acontece tanto nos eventos presenciais abertos ao público quanto nos treinamentos que realizamos de forma presencial ou virtual nas empresas. Eles têm receio de falar algo considerado errado e serem julgados como preconceituosos por outras pessoas. 

No entanto, cada vez mais temos recebido pedidos de ajuda de homens querendo entender o seu papel no mundo. “Quero aprender, quero ser diferente”, alguns dizem. Outros contam que tem uma filha e perceberam que não sabem se posicionar — são corrigidos o tempo inteiro pelas filhas e até mesmo pelos filhos homens das gerações mais novas. 

Depois de muitas reflexões sobre como poderíamos ser mais efetivos nessa transformação, decidimos criar o “Fórum Conversando com Homens sobre DIEP- Diversidade, Inclusão, Equidade e Pertencimento”, o primeiro evento do Brasil focado nesse público, principalmente homens brancos e heterossexuais da alta e média liderança.

Um dos grandes diferenciais do fórum é ser um espaço seguro para que todos possam expressar suas dúvidas e receios, a fim de aprenderem a exercer uma liderança mais inclusiva e humana. Também vamos da teoria à prática, trabalhando em conjunto na criação de um plano de ação. 

O Fórum abordará diversos temas, entre os quais o papel e a responsabilidade dos homens como aliados e agentes de transformação, a conscientização da transformação cultural, os compromissos das empresas com a licença parental, a cultura dos homens de diferentes gerações, assédio moral e sexual e o plano de ação para implementar nas empresas. 

Fica aqui o meu convite para que todos os homens assumam o protagonismo em Diversidade, Inclusão, Equidade e Pertencimento. Sempre respeitando o momento de cada um, vamos aprender juntos a transformar a cultura corporativa e inspirar mais homens a serem agentes de transformação, construindo empresas mais diversas, inclusivas, inovadoras e lucrativas! 

Colunista |

Cris Kerr

Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada com 15 anos de atuação em Inclusão & Diversidade, escritora, professora da Fundação Dom Cabral, mestra em Sustentabilidade pela FGV. Foi pioneira no tema D&I com o lançamento em 2010 do Super Fórum Diversidade & Inclusão, que está indo para a 12ª edição, e tem como propósito apoiar as corporações a construírem ambientes mais diversos e inclusivos, tornando-as mais inovadoras e sustentáveis.

Cris Kerr – Foto Divulgação

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